Para onde foram as minhas lembranças?

O AFS Brasil faz 50 anos em 2006. Procurando algumas fotos tiradas há alguns anos para uma exposição comemorativa do AFS encontrei meus álbuns enquanto estudante de intercâmbio em Porto Rico (1994/95), e (re) vendo todas eles eu senti que grande parte das minhas lembranças da adolescência morriam ali.

E de fato morreram.

A gente tende a conceder juízos emocionais a fotografias como se na realidade elas pudessem representar todos os sentimentos complexos que já tivemos. Na verdade não todos, mas os extremos: o saudosismo ou a raiva, a felicidade completa ou a tristeza profunda. É impressionante como conseguimos simplificar numa impressão todo o período de uma vida.

Os anos não voltam - inevitável verdade - com fotos, vídeos ou em quaisquer outros suportes. Os sentimentos também não voltam, eles nos acompanham e se transformam de acordo com nossas novas visões de mundo e dos próprios sentimentos que temos.

Todos os dias penso em voltar, em mergulhar num passado sem surpresas, organizo reencontros, revejo amigos, mas o tempo insiste em não voltar. Insiste em testar minha persistência, insiste em me desmoralizar, em desafiar meu saudosismo e minha vontade de dominar o tempo.

As tentativas de reviver cheiram a leite azedo, tornam-se sofridas, fugidias. Não é este momento, não são mais as mesmas pessoas, são representações não lúcidas de uma realidade que não existiu. São simbólicas e perfeitas - e por isso vazias, por isso que elas não preenchem nossos corações, não tapam o nosso vazio, embora despistemos esta que era nossa esperança e continuamos nossa eterna busca no passado por algo que possa ter gerado estas sensações incompletas de hoje.

Não adianta, a gente envelhece e por mais que nos esforcemos, estamos sempre nos acomodando. Perdi a inconseqüência, ela fugiu em disparada há muito tempo. Perdi a intuição, perdi a coragem de fazer as coisas sem pensar, dar uma chance ao fortuito sem que a lógica e a racionalidade pudessem decidir todo e cada ato de minha vida. Acho que eu deveria lutar contra a apatia, a chatice. Mas a falta do hábito nos torna burocráticos, retira nossa inventividade, coragem e criatividade. Nos prendemos numa rotina que parece prisão tamanha a dificuldade de mudança. E mesmo estas mudanças são inúteis e voltamos correndo com medo à rotina.

Permanecemos no claro para evitar nosso medo desesperador da escuridão. Me afligem os apegos materiais de minhas lembranças. Parece que minhas recordações estão sumindo do consciente, parece que só com minhas fotos terei meu passado guardado, parece que as lembranças traumáticas insistem em tomar o lugar dos grandes momentos de minha vida que estão sumindo, que estão guardados nos meus álbuns de fotos.

O passado vem antes do presente. Verdade óbvia que foi dita numa canção para que engulamos a seco todas nossas esperanças de tentar viver no passado e não existir futuro. Se pudéssemos controlar o passado não temeríamos tanto, não sofreríamos tanto. Não teríamos tanto medo de perder pessoas, de perder lugares, de perder um tempo que não volta, medo talvez de nuca mais sermos os mesmos.

Para onde foram as minhas lembranças?

PS. Meio pessimista esse meu ponto de vista. Reflexos de Schopenhauer? [li a Cura de Schopenhauer – Irvin Yalon – recentemente. Recomendo, mas não deixe a visão pessimista dele – Schopenhauer – te abalar por muito tempo.]


Tour com a escola (Yauco High) para o recife de Corais de Magüey. Segurando uma espécie rara de ouriço do mar branco – coisas que só o Caribe faz por você [abril de 1995]


Cara de gurizinho... e bronzeado [momento raro na minha vida], carro da família em Porto Rico. O adesivo dispensa comentários... [junho de 1995]

Bom guri.

11:00 AM Posted by Lucas Welter 0 comments
Como eu me comportei em 2005 e tentei ao máximo ser uma boa pessoa – eu fui um bom gurizinho... – , o universo (ou seja lá no que você acredita…) me recompensou devolvendo um grande amigo. Explico: durante algumas séries do primário meu melhor amigo se chamava Fernando Bordin. Lá pela sexta série ele mudou de cidade e perdemos o contado. Em 2005 conheci outro Fernando Bordin [não é o mesmo, são duas pessoas com o mesmo nome – o universo ou sei lá no que você acredita conspirou...almost cosmic, isn’t it?].

O Bordin (esse novo...) acabou se tornando muito presente na minha vida, a ponto de eu sempre me referir a ele como o meu mais novo melhor amigo. Admiro muito ele pela dedicação ao UFRGSMUN e por tudo o que ele entende de ONU e diplomacia (broad sense). Valeu Fernando pelas horas de convivência, pelas tardes no MSN, pelas divergências e interesse em design (hehehe), pelos conselhos UFRGSMUNianos, pelos muitos minutos no telefone, pelos almoços na arquitetura. Que continuemos com tudo isso em 2006 e sempre!

PS1. Ontem foi um dia como todos deveriam ser: vadiagem pura. Almocei com o Bordin à 1 da tarde e ficamos conversando sobre tudo, sobre nada (like old friends should talk...) até às 11h da noite.

PS2. Na verdade o bom guri do titulo é o Bordin.
Eu sou o gênio do mal ;)

PS3. Sim, antes que comentem, eu tenho uma coleção pessoal de sinais ortográficos [travessões, pontos, parêntesis...], e adoro bagunçar os textos com eles. Tem que ter raciocínio rápido...

Ah, o tempo passa.

10:51 AM Posted by Lucas Welter 0 comments

Da série sim, o tempo passa
Muito tempo atrás...
Foto com minha família hospedeira em Porto Rico [Porto Rico não é a Costa Rica – geograficamente analfabetos...], tirada em 1995 durante intercâmbio com o AFS.


Algum tempo atrás...
Com a Lucy e o Pedro em 2000, também em Porto Rico, em casa (!!)


Pouco tempo atrás...
Novamente com a Lucy e o Pedro, no calor porto-riquenho após 1 metro de neve em NYC. Janeiro de 2005.

Saudades da Pré-escola? Eu não. Faço isso todo dia...

Outro dia eu pedi que me arrumassem uns programas legais. Confesso que meus amigos tem feito esforços. Por exemplo, a Deby, ontem saiu de Novo Hamburgo e veio para POA para sair comigo. Programa light, conversamos um montão embalados por água sem gás e água com gás. Aliás, conversar com a Deby é algo muito especial, acho que não consigo colocar em palavras. Ela ficou me contando maravilhas de um intercâmbio que ela fez recentemente no Canadá onde deram uma aula muito legal sobre planejamento usando Lego. Eis que Lego é uma excelente lembrança da minha infância. Da pré-escola.

Minha mãe sempre achou que eu quis fazer arquitetura porque nunca quis abandonar os lápis de cor. Nem os hidrocores, nem as tintas, nem os papéis legais, nem a cola, muito menos a tesoura e todas aquelas coisas legais do jardim de infância. Faculdade de Arquitetura é quase isso: um upgrade no teu jardim de infância. Quando eu estava no primário, lembro de todo ano no começo do ano letivo nós saíamos para comprar material escolar. Deviam ser momentos de tortura para a Dra. Sirley. Além de gastar horas dentro da papelaria, saia com a conta bancária bem mais baixa. O máximo eram as caixas de lápis de cor de 36 cores (honestamente, umas coisas duras que nem pintavam direito). Outro dia, andando com um amigo meu na rua, quando contei que existem caixas de 120 cores ele quase teve um ataque. Eu gostava mesmo era de giz de cera. Lá pelas tantas, ganhei da minha mãe uma caixa de giz importados, Caran d’Ache, a oitava maravilha do mundo. Depois, uma tia artista me deu uma caixa de lápis de cor alemães, a nona maravilha do mundo. E depois vieram os hidrocores com cores legais, as aquarelas importadas e no ano passado, nos USA, tive coragem de comprar um outro estojo novo de hidrocores.

Confesso que mantenho um estoque pessoal de material de desenho de fazer inveja a muita papelaria. Acho muito legal ter a mesa cheia de copos de vidro com canetas, canetas coloridas, hidrocores e todo tipo de parafernália sempre a mão. Mesmo que não use mais. O computador eliminou muito disso, mas confesso que ainda não deu a agilidade necessária para substituir completamente. Acordei criativo, expressivo. Ataquei a caixa de aquarelas e comecei a pintar, fazia muito tempo que não pegava nas tintas... ando meio destreinado. Ano passado nos USA, fui obrigado a trabalhar bem mais com papel e canetas do que eu imaginei, então senti o drama dos anos longe do desenho. O computador, de fato, não acompanha o raciocínio da forma como uma caneta nas mãos acompanha.

Acho que no fundo minha mãe estava certa. A arquitetura foi uma grande desculpa para ficar por perto dos lápis de cor e nunca deixar o lado legal da pré-escola. Mas por um lado, eu não posso me queixar de saudades, afinal, ainda conservo e uso os hidrocores e lápis de cor e eles, agora, são bem melhores.

A diferença entre um adulto e uma criança é o preço dos brinquedos
Não sei quem disse, mas é bem verdade.

Deby, valeu pela companhia!


Aquarela by Lucas. Dia de chuva em Porto Alegre

One year ago...


Há exatamente um ano atrás eu tava aqui.
Da série: Pontes do Mundo.
Converging lines masterpiece. O terror dos arquitetos...


Essa vai de troco. Momento introspectivo, dos outros, é claro. Dica: The coldest winter I spent was the summer in San Francisco.

Semana passada vi um filme desses bem água com açucar, classificação "domingo à noite" (daqueles para não começar a semana pensando), e eis que o filme foi todo gravado em San Francisco e fazia questão de mostrar San Francisco e as coisas tradicionais de San Francisco: bondes, Golden Gate, Alcatraz, Castro, casinhas vitorianas, parques, Mission Dolores, Union Square... Just like Heaven (E se fosse verdade) é uma história legal, mas o grande forte são os atores, bem esforçados para a coisa dar certo. Vale a pena conferir se: 1) for domingo à noite; 2) relacionamentos não forem um problema na tua vida; 3) tu fores apaixonado por San Francisco (e eu nem sabia que o cenário era esse...).

Make it happen!


Frankfurt Int. Airport. Hora dessas.

Da coleção Airports of the World.
Da coleção Airports of the World que matam a gente de tédio.
Da coleção Abobados com uma máquina digital nas mãos.
Da coleção 2006 será um grande ano.

Mas como o resultado ficou agradável, estou dedicando a foto para a Mari Grangeiro, que sempre foi fã incondicional do blog e deixou um scrap encorajador (!!) no meu orkut. Mari: make a wish and make it happen in 2006.

Porto Alegre, 43 graus (sem fotos, afinal, para que ter provas desse crime?)

8:04 AM Posted by Lucas Welter 1 comments
Um morador de Porto Alegre é um sobrevivente. Muito mais que o nordestino de Euclides da Cunha. O porto-alegrense resiste a várias catástrofes climáticas anuais. Isso quando não enfrenta todas no mesmo dia. Sem direito a qualquer ajuda do governo para comprar ventilador quem dirá construir piscina ou comprar ar condicionado (taí uma boa idéia para subsídios federais...).

Em 2005, o outono caiu numa quinta-feira, das 20h30min às 21h. Já a primavera, mais longa, caiu numa tarde de domingo. No restante do tempo, oscilamos entre o inverno e o verão, com a mesma regularidade dos trabalhos do Congresso.

Temos o privilégio (duvidoso...) de suportar um inverno que pode ser frio e úmido, ainda que intercalado por semanas de muito calor e noites indefinidas. Sempre que convido alguém para vir a Porto Alegre e me perguntam sobre o tempo, a resposta tem sido: venha preparado para as 4 estações, elas tem caído todas no mesmo dia.

A maioria da população de Porto Alegre não tem qualquer sistema de aquecimento em casa. Muita gente se esquenta com uma estufinha ou com um cobertor nos joelhos. Isso me lembra de outro drama daqui: o banho no inverno. Drama para aqueles que só possuem chuveiros elétricos, que para sair água quente é preciso fechar bem a torneira, resultando na liberação de 3 pingos a cada 5 minutos, antes de a resistência queimar e dar tempo de esfregar as costas. Algo contraditório, pois contribui para a economia no consumo de água durante o inverno, juntamente quando chove bastante. Em compensação melhora os reflexos, já que é necessária muita sintonia entre o jogo do corpo e o pingo d’água.

Sobre o calor que estamos enfrentando, nem ouso comentar. Vá que alguém lá encima interprete errado e resolva me castigar ainda mais. Não adianta sermos mais cultos e politizados que o resto do pais se temos esse clima de pobre, que muda de opinião a cada meia hora. Acabo de voltar do Rio e acho que uma cidade sem mar como Porto Alegre deveria ter mais consideração com os seus moradores. Nunca passar dos 30.

DJ Tiesto



Eu fui! E foi muito legal, legal mesmo. Confesso que lembrei muito da Deby. Gosto muito mais dos DJs europeus, os brasileiros acham que musica eletrônica é só batida... O Tiësto não é o melhor do mundo à toa. Fez um super show, foi o cara mais empolgado que eu já vi. E tocou 4 horas! Sobre a festa, bom, a maior concentração de gente mal educada (talvez alucinada???) que eu já vi. Apenas 4500 pessoas... Fora isso, o ambiente tava também muito legal, a Marina tem um pavilhão de estrutura tensionada (arquitetês na área...), perfeito para música eletrônica. Não faltaram os lasers e nem toda a parafernalha necessária. E incrivelmente, o som tava no volume certo, não excessivo como em todas as festas que eu fui em 2005. Valeu cada centavo. E eu estava muito bem acompanhado (valeu meninas!!).

Word Press Photo Exhibition 2005 no MAM – Rio de Janeiro

7:59 AM Posted by Lucas Welter 1 comments
Volto a comentar: prometi dar atenção ao photoblog em 2006 e vou cumprir. As duas últimas semanas foram semanas de férias, intensas, pelo menos das atividades tradicionais... Vou relatando aos pedaços.

Estive no Rio de Janeiro (entre trabalho sério, férias com amigos dos USA e para curtir a companhia da minha hostess favorita – olha a moral Emmeline!) e fui na exposição do World Press Contest no Museu de Arte Moderna. A World Press é uma ONG holandesa dedicada a promover o trabalho de fotojornalistas e organiza um concurso anual com as melhores fotos. Cumprindo um grande tour pelo planeta chegou ao Rio de Janeiro e depois vai para Curitiba. Quem conhece um pouquinho do Lucas tradicional (nem eu sabia que vinha em outras versões...) sabe que eu sou fã de fotografia (tá, peguei leve com essa... mas deixemos de lado as formalidades). Atualmente acredito que fotografias jornalísticas não devam somente oferecer respostas, apenas registrar o que acontece. Boas fotografias jornalísticas devem fazer perguntas. E definitivamente as fotos dessa exposição fazem perguntas. Perguntas sobre o estado delicado em que anda o nosso planeta.


[Prédio do MAM: modernos ficam melhor em P&B... a cerquinha (ri-dí-cu-la) é por conta do Rio Fashion Week]

As pessoas quando olham para uma foto geram instantaneamente uma opinião ou impressão sobre ela. Pode ser por causa do conteúdo, das cores, da forma como a foto foi tirada, por casa de alguma relação que ela despertou no observador. Entre as que eu mais gostei está a foto abaixo de um francês que trabalha para a Reuters chamado Pierre Holtz. Meus motivos? Bom, pragmaticamente falando, foi o contraste e o movimento. Secretamente ela serviu para lembrar que é possível sorrir no meio de situações adversas, me fez lembrar para em 2006 ser mais paciente com as dificuldades e com as perdas.


[Senegalese children run through a swarm of locusts in the capital, Dakar, on September 1. The locust invasion was the worst West Africa had seen for 15 years. By October, swarms reached as far afield as Crete, Cap Verde and Lebanon, devastating millions of hectares of crops. Adult locusts can consume their own weight in vegetation every day, stripping fields bare in seconds. Aid agencies said that the locusts had destroyed up to a third of the crop in African countries affected by the plague. The swarms were so large that usual methods of driving them off, such as banging steel pans and burning tires, were ineffective. Paradoxically, good rains in 2004, which led to healthy harvests, also created the ideal conditions for the locusts to breed faster.]

Andei meio ausente das fotos nos últimos tempos. Apesar de ter feito em 2005 uma exposição com algumas fotos de 2004, sinto falta de sair e fotografar sem compromisso (ou com compromisso...). Vou aproveitar para atender um pedido antigo: colocar no ar as fotos da exposição. O link está aí ao lado. São 22 fotos que eu tirei enquanto morava nos Estados Unidos, sempre enfocando a arquitetura universitária. São fotos que não fazem perguntas e nem acho que oferecem respostas. São fotos de arquitetura, para quem gosta de linhas, planos, pontos e lá de vez em quando, um referencial humano, apenas para escala ☺.

PS. Alguém tem algum convite legal pra passar o tempo de um jovem meio desocupado? hehehe…