Sobre o U2 e a geração conteúdo

Friday, February 24, 2006 6:09 AM Posted by Lucas Welter
Sim, o show foi muito legal, superou expectativas. A vaia que o telão do U2 ganhou ao mostrar o Nosso Guia (como diria o Elio Gaspari…), foi uma das melhores partes para o tucano aqui. Bom, o show todo mundo viu na Globo, com o Jeca Camargo.

Mas meu assunto hoje aqui é outro. Em 2005 conversamos muito no AFS de como a era da informação tem impactado nossos programas e de como não sabemos lidar com isso. Explico: nosso programa de orientações é o mesmo desde que eu fui participante em 1994 (e já naquela época devia ter uns 10 anos...). O programa de orientações e aconselhamento é o que difere o AFS das outras organizações de intercâmbio. Sempre tivemos muito orgulho dele e acreditamos que ele é fundamental para ajudar nossos estudantes a entenderem o que acontece com eles durante um ano de imersão intercultural. E pelo nosso lado, é o que ajuda a mover os estudantes de estágios etnocentristas para estágios etnorrelativos de adaptação intercultural. Eu sei, termos complicados.

Pois é, quem viu o show do U2, deve concordar que ninguém segura a "Geração Conteúdo" (Geração Google é o termo que eu tenho usado – 1.988.874.987 de respostas em 0.34 segundo...) e graças a ela (ou devo dizer: graças a nós todos) hoje não tem mais intermediário da informação. Você faz, você distribui, você consome. Tem uma campanha de marketing da HP de câmeras digitais, voltada para essas pessoas "comuns" que produzem conteúdo, que já dizia: "You have the power".

Chega um momento em que a gente tem que parar e dar o braço a torcer. E o show do U2 em São Paulo, foi um desses momentos. Não pela qualidade musical, muito boa, pelo evento em si, memorável, pela comoção do público, histórica. O show do U2, não me tocou só por isso. Explico:

Letras globalizadas, campanhas publicitárias cruzadas, direitos humanos projetados na tela imensa e ultra-tecnológica. Em meio a isso tudo testemunhei o já esperado Messianismo de Bono (com direito a encenação meio Edipiana, olhos vendados por uma bandana da Campanha COEXIST), os riffs já clássicos do Edge e estaria muito bem assim se...os celulares não se levantassem.

Pontos luminosos saindo de praticamente todas as mãos. Aquilo ali era a prova cabal do poder que pessoas, antes apenas consumidoras de informação, têm. Quantos pontos de vista (para não falar fotos e vídeos) seriam publicados horas depois? Todo mundo produz e distribui conteúdo. A entropia é o novo modelo de comunicação? Podemos dizer que o show do U2 ontem é também um reflexo do cenário que vemos na web no que se refere a autoria de todos aqueles que antes eram apenas consumidores de informação? Sim. Como vender para clientes campanhas de massa, depois de uma demonstração dessas? Difícil. Mas também uma excelente oportunidade.

Hoje, através de manifestações como essas, percebemos que é menos controlar e mais saber acompanhar estes fluxos de informação. E quando nos referimos a business, é pegar o cliente pela mão, leva-lo até a janela e dizer: amiguinho, em cada janela daquela tem alguém criando seu próprio veículo. Esqueça o antigo poder de controlar, esqueça. Você precisa é de quem entenda como isso funciona, possa entrar lá nessa entropia maluca e plantar a sua mensagem, fazendo dela um conteúdo interessante. E fazendo de cada consumidor, seu multiplicador.

Pegue o cliente pela mão e apresente este novo mundo para ele. Comece mostrando as fotos do Flickr e do Fotolog. Horas depois, antes das capas dos jornais, já estava tudo lá. Vídeos inclusive. Depois, conte a história da Katilce, que foi levada ao palco, dançou e ainda tascou um selinho no Bono. Dos mais de 1 milhão (um milhão, alguém sabe que é isso???) de scraps em sua página no Orkut (até agora...). Das comunidades que já foram abertas, algumas com centenas de usuários. Centenas. Milhares. Fale que a própria banda tem seu blog. Fale que antes tínhamos isqueiros, agora temos aparelhos de celulares levantados, num desejo de expressão infinito que nem desejo é mais. É poder. Fale que o poder está nas pessoas e não apenas em uma única mensagem.

Por um lado, fico contente de ver que minhas preocupações em querer mudar a forma como trabalhamos com adolescentes nessa so-called era da informação tem fundamento. Por outro me assusta e me desafia. Ainda vou voltar várias vezes a esse tema. Tem um seminário de Aprendizagem Intercultural chegando...

By the way, semana que vem eu publico umas fotos de uns outdoors da campanha COEXIST que eu tirei nos USA. Tem uns lindos, a cara do AFS.

AFSers: as I’m still eager to finish my homework of world peace, just wait for the changes and innovation on the program content.

2 Response to "Sobre o U2 e a geração conteúdo"

  1. Anonymous Says:

    Entrei aqui para saber como tinha sido o show do U2. Toda aquela emoção, música de qualidade, telões, um moonte de pessoas...
    E me surpreendi, ao ver o quão profudo foi tudo oq tu escreveu. As vezes a gente não se dá conta das transformações ao nosso redor... e na maioria das vezes nao é no meio de um showzão que a gente se dá conta disso, mas... trata-se do Lucas!
    Os comentários sobre oq tu escreveu n podem ser resumidos aqui. Eles rendem uma boa conversa... Entao, que fique registrado que achei o máximo oq tu escreveste.
    Que venha o carnaval! Beijos

  2. Anonymous Says:

    Belo belo texto!