Feriadão?

Monday, November 06, 2006 11:39 PM Posted by Lucas Welter
Olha, tá cheio de gente que foi para praia durante o feriadão, eu devia ter estado no UFRGSMUN, mas não fiz fazendo nada disso. Trabalhei pelo menos 14 horas por dia para terminar o treinamento que teremos em Assunção daqui a 2 semanas e os projetos que eu tenho com o AFS Internacional. Consigo sonhar em espanhol mesmo no Brasil. Até minha mãe já falou comigo em espanhol num sonho.

Hoje passei o dia organizando a informação que coletei na Costa Rica. Ah, deixa eu contar o que fui fazer na Costa Rica. De acordo com o meu chefe, fomos fazer uma auditoria organizacional. Segundo minha própria percepção, eu fui ouvir as pessoas se queixarem e falarem com muita emoção sobre o AFS.

Durante 5 dias eu participei de reuniões, entrevistas, dinâmicas de grupo, grupos focais, entrevistas em grupo em várias cidades e com um número de pessoas que depois que passou de 42* eu parei de contar. Acordava às 6:30 da manhã para me reunir com meu chefe às 7h – reunião informal para combinar o dia -, tomava café às 8h já atrasado com o meu guia-chofer-conhece-todo-mundo do meu lado repassando as atividades do dia e só parava às 10:30 PM para me reunir outra vez com o meu chefe para fazer o debriefing do dia. Caía morto na cama à meia-noite. E tudo de novo no dia seguinte.

Tiveram alguns momentos marcantes. Quarta-feira, dia de tour pelo interior da Costa Rica, que descobri que dá para atravessar em 8 horas.

O dia começou com uma entrevista ao diretor de uma escola em Grécia (1h de San José). Vai entender porque uma cidade no interior da Costa Rica se chama Grécia. Muito bacana, disse que eu era a segunda pessoa do AFS que aparecia na escola nos últimos anos (!!) e que isso fazia com que o AFS fosse muito mais presente que os outros programas de intercâmbio. Ah, tá. Depois vou para um café com duas outras voluntárias, onde sigo o roteiro básico de perguntas e respostas sobre a organização, motivação, vida, família, me senti um pesquisador do IBOPE.

Depois do almoço, sento com outra voluntária e falamos do impacto do AFS na vida dela e da família, do sacrifício que fizeram para mandar o primeiro filho, de como não tiveram mais dinheiro para mandar os outros e como começaram a receber estudantes desde então, como é o trabalho no AFS, quanto a organização tortura os seus voluntários, mas quanto ela acrescenta na vida das pessoas. Sorte que eu tinha um pacote de lenços, pois a mulher desatou a chorar e eu sou péssimo para acolher nessas horas... Vou precisar de muita formação se continuar trabalhando com isso. Já fui até ver vestibular de psicologia... E depois tem gente que não entende porque eu faço terapia... Até ganhei o título de ouvidor oficial, já que todo mundo aproveitava para falar tudo que parecia errado no AFS (e no mundo).

Outras entrevistas mais, final da tarde me encontro na cozinha da presidente do comitê de Alajuela, subúrbio de San José. Eu e mais 5 mulheres cozinhando (elas, né...) e eu fazendo minha inquisição básica. Novamente, queixas, reclamações e quanto, a pesar de tudo, o AFS tinha mudado a vida de todo mundo. E o mais interessante foi eu me dar conta que eu estava na cozinha de pessoas completamente desconhecidas falando sobre como a vida de cada um de nós tinha sido impactada pela organização. Naquele momento percebi de que boa oportunidade para desmantelar os clichês que povoam minha visão sobre como vivem as pessoas mundo afora. Mesmo com todos os problemas que conhecemos, são pessoas como as outras, como nós mesmos, e estão ai errando e acertando, batendo cabeça pra viver como dá (ô minimização…). E a janta tava maravilhosa para quem tinha passado o dia em cafés tomando capuccinos (eu não tomo café...) – nem preciso dizer que fiquei acordado até tarde...

Aí que agora eu me sinto mal de ter que reduzir essa série de sentimentos e experiências complexas em meia dúzia de palavras, rótulos ou percepções. Não depois de tanto tempo de convivência. Convém dizer que percepções são produzidas a partir de experiências pessoais. São minhas, são percepções e elas podem ser bem equivocadas. Eu, pessoa. Matemática, escola. Entende? Esses sentimentos são coisas que não se quantificam, não se medem. Acho que isso explica o esgotamento emocional e a minha dificuldade em condensar esses 5 dias em 10 páginas (incluído o resumo executivo...).

*42 é a resposta para o Universo e tudo mais...

4 Response to "Feriadão?"

  1. Angel Says:

    Lucas,
    Posts longos são difíceis de se comentar. Resolvi comentar lá no blog. Dá um pulo lá :P

  2. Lucas Welter Says:

    Ok... decidi fragmentar ;-)

  3. A.L. Says:

    Caramba... Deu pra ter uma idéia do que eram as mil coisas que você tinha a fazer/começar/terminar/desenvolver. Não à toa o UFRGSMUN ter ficado em segundo plano. (Assim, não que eu tenha perdoado... Sabe como é: UFRGSMUN é oportunidade rara, que não pode ser desperdiçada. =P)
    Beijo

  4. Unknown Says:

    Cara, você tem o emprego dos sonhos!!! Não sei se você lembra de mim. Eu estava no deck da piscina no Domingo à tarde, último dia da CN no Rio... Te dei os parabéns e tudo...

    Se precisares de um assistente-psicólogo é só chamar.

    No blog da Angel, o link que tinha pro seu blog dizia assim: "Meu amigo Lucas; quando eu crescer, quero ser igual a ele!" Agora eu sei o que isso quer dizer, bro. Você serve de exemplo pra muita gente, inclusive pra mim...

    Pois então... qualquer coisa, eu presto consultoria em psicologia também viu! Estou um pouco longe, mas terei uma imensa satisfação em te ajudar.